Em uma noite histórica, Santo Ângelo, foi palco de um evento que marcou os 100 anos da partida de Luiz Carlos Prestes da cidade. O IHGSA (Instituto Histórico e Geográfico de Santo Ângelo), com o apoio da URI, promoveu o evento "Coluna Prestes: 100 Anos de História", reunindo acadêmicos, professores e convidados no auditório do TecnoURI Missões na noite de 28 de outubro de 2024.
O Legado de Luiz Carlos Prestes
O destaque da noite foi a presença de Luiz Carlos Prestes Filho, músico, cineasta e pesquisador da história da Coluna. Durante mais de 90 minutos, ele compartilhou conhecimentos valiosos sobre o contexto histórico da Marcha Militar, que percorreu impressionantes 25 mil quilômetros por diversos estados brasileiros entre 1924 e 1927.
Prestes Filho ressaltou que seu pai não partiu sozinho de Santo Ângelo, mas acompanhado por mais de 1000 homens. Entre os nomes citados estavam figuras proeminentes como o general Miguel Costa, Juarez Tavora, Cordeiro de Farias, Osvaldo Cordeiro de Farias, Antônio Siqueira Campos, Djalma Dutra Soares e João Alberto Lins e Barros.
Santo Ângelo: O Berço da Revolução
A história de Luiz Carlos Prestes em Santo Ângelo é fascinante. Transferido para a cidade em 1923 como uma forma de "castigo" por sua participação na conspiração do levante de 5 de julho de 1922, Prestes, então com 25 anos, surpreendeu a todos com sua dedicação e liderança.
Na Capital das Missões, ele não apenas participou de importantes obras de infraestrutura, como a construção da estação do Comandai, da ponte de ferro e da rede ferroviária no trecho Santo Ângelo/Giruá, mas também se dedicou a melhorar as condições de vida dos soldados do Batalhão Ferroviário.
Prestes implementou mudanças significativas: Construiu um alojamento adequado, criou uma cozinha decente, incentivou a prática de esportes e exercícios físicos e lecionou para combater o analfabetismo entre os soldados. Essas ações conquistaram a confiança e o respeito da tropa, estabelecendo as bases para o que viria a seguir.
O Início de uma Jornada Histórica
Foi em Santo Ângelo que Prestes assinou seu primeiro documento político e público, o “manifesto de Santo Ângelo", datada de 29 de outubro de 1924. Este ato marcou o início da histórica marcha da Coluna Prestes.
Prestes Filho fez questão de enfatizar: "A Coluna Prestes não foi e não era um movimento comunista, era uma luta pelas causas do tenentismo. Meu pai ingressou no PCB apenas em 1934."
As Bandeiras do Tenentismo e Sua Relevância Atual
O palestrante traçou paralelos entre as bandeiras do tenentismo e os desafios atuais do Brasil: Industrialização do Brasil, exportação de produtos com valor agregado, luta pelo voto secreto e pelo sufrágio feminino e independência do capital financeiro internacional.
"Essa data está diretamente ligada ao que acontece atualmente no Brasil. Não podemos só comemorar o passado, pois a Coluna aponta para o presente e futuro", afirmou Prestes Filho.
O Legado Contínuo
A palestra não se limitou apenas aos eventos históricos. Prestes Filho também abordou a trajetória posterior de seu pai, incluindo: A prisão de 9 anos, o assassinato de sua esposa Olga Benário, sua atuação como senador da república e a cassação de seu mandato e a vida na clandestinidade durante o regime militar de 1964.
Uma Reflexão para o Futuro
Prestes Filho concluiu com uma reflexão poderosa sobre a política e o futuro do Brasil: "Na política nunca podemos tratar algo de ordem pessoal e particular, pois os interesses do povo e da nação são imprescindíveis e intocáveis". Ele enfatizou a necessidade de radicalizar o campo democrático, convergindo para a direção da fraternidade, da irmandade e do amor.
Para os organizadores, o evento "Coluna Prestes: 100 Anos de História" não foi apenas uma celebração do passado, mas um chamado à reflexão sobre o presente e o futuro do Brasil. As lições e ideais da Coluna Prestes, um século depois, continuam relevantes e inspiradoras para as novas gerações de brasileiros que buscam um país mais justo e democrático.
Fonte: Paulo Renato Ziembowicz (URI)