A “reforma da reforma” do Ensino Médio está prestes a ser efetivada em escolas que oferecem a etapa em todo o Brasil. Após críticas, a aprovação de uma nova lei revogou as mudanças implementadas desde 2022 e substituiu o formato do chamado Novo Ensino Médio por uma espécie de meio-termo entre a estrutura clássica e a transformada, que entra em vigor no ano que vem. A novidade é comemorada por alunos e direções.
Ainda que mantenha a oferta de uma parte do currículo flexível, na qual o estudante pode escolher entre duas ou mais trilhas de aprofundamento, a carga horária das disciplinas comuns a todos os alunos – chamada de Formação Geral Básica (FGB) – vai aumentar. Atualmente, das 3 mil horas de aula previstas ao longo dos três anos do Ensino Médio, o tempo dedicado à FGB é de 1,8 mil horas. Para 2025, passará para 2,4 mil horas.
Já os itinerários formativos – essa parte do currículo na qual o estudante pode escolher se terá, por exemplo, mais aulas de ciências exatas ou de ciências humanas – terão carga horária mínima de 600 horas ao longo dos três anos. Na formação técnica profissional, o tempo pode chegar a 1,2 mil horas.
Com a mudança legislativa, a nova Política Nacional do Ensino Médio foi instituída em 31 de julho. Desde então, as redes têm se dedicado a adaptar suas grades curriculares, capacitar seus professores e comunicar as novidades para pais e alunos.
No Colégio La Salle Canoas, a aposta é no diálogo com a comunidade escolar, que acontece desde o 9º ano. A proposta foi apresentada para os estudantes e, depois, para as suas famílias. Depois, as transformações forem levadas para as turmas de 1ª e 2ª série do Ensino Médio e, por fim, para os seus pais.
— Existe toda uma metodologia que a gente usa no sentido de conhecer bem a proposta, não reagir, simplesmente. A preocupação é explicar bem: pode fazer a mudança que quiser, desde que se explique ela direitinho — observa o diretor do La Salle Canoas, Aureo Kerbes.
A supervisora educativa do colégio, Carla Nunes, destaca a importância de personalizar essa explicação, conforme cada grupo:
— Uma coisa é explicar para o estudante do 9º ano, que está ingressando no Ensino Médio e vai viver essa mudança desde o início. Outra coisa é explicar para o aluno que está na 1ª série (do Médio), numa matriz curricular antiga e que, agora, vai ter que passar por essa adaptação por uma força de lei. Tudo uma só corrente, uma grande engrenagem para esse processo funcionar e ter essa tranquilidade nessa mudança — resume Carla.
A busca por passar segurança para os alunos parece ter funcionado. Se Manuela Moschetta, que está no 9º ano, demonstra satisfação com a forma como o Ensino Médio vai ser oferecido, o mesmo acontece com Gabrielle Bittencourt e Luis Gustavo Belissimo, que já cursam a 1ª série e pegarão a mudança com a etapa em andamento.
— A gente vai acabar tendo um meio-termo entre o antigo Ensino Médio e o novo. A gente vai ter um aumento nos períodos de FGB e uma diminuição, acho que pela metade, dos itinerários, os “preparas” vão ser mantidos, que são como se fosse um preparatório para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e, na minha visão, são mesmo os mais importantes. Acho que a gente vai conseguir conciliar e ter o melhor benefício de ambos — comenta Luis Gustavo, 16 anos.
Gabrielle, 15 anos, está confiante: acredita a qualidade do Ensino Médio aumentará com a mudança.
— Eu acho que a gente vai ter mais tempo para nas coisas. Por exemplo, no ano que vem, o 1º ano vai ser focado em química, o 2º em biologia e o 3º em física, mas a gente ainda vai ter as outras matérias. Eu também gostei muito da parte do terceirão, em que vai ter uma revisão geral que eu acho que é muito importante — descreve.
Ainda no 9º ano, Manuela, 15 anos, relata que sua turma ficou muito interessada nas mudanças:
— A gente já tinha esse susto do outro Ensino Médio, mas este novo, agora, gerou uma ótima expectativa na gente. Essa questão de cada ano ser focado em uma matéria a gente achou muito interessante, porque acaba tendo um aprofundamento maior.
A adolescente já decidiu qual itinerário seguirá: será o focado em ciências humanas, por ser uma área que pensa em seguir profissionalmente e por já ter uma facilidade genuína em exatas.
As mudanças têm motivado formações realizadas pela rede estadual de ensino. Em live voltada aos professores, a secretária estadual de Educação, Raquel Teixeira, destacou a importância da reforma para aumentar a motivação dos alunos e evitar que eles abandonem os estudos e assegurou que não há grandes novidades, com relação ao que já está sendo feito.
— A gente já vinha trabalhando com a ideia daquilo que era mais importante na reforma do Ensino Médio. A primeira coisa era a flexibilidade, que foi o que o grande motivador da reforma. Houve algumas hesitações no começo, mas, agora, a gente tem uma orientação mais clara de como serão esses itinerários formativos. Na primeira versão, houve uma redução maior do que a desejável das horas de Formação Geral Básica. A lei atual recompõe as horas de FGB, mas concilia, de forma muito legal, a FGB com outro ponto importante da reforma do Ensino Médio: a introdução da Educação Profissional e Técnica — avalia a secretária.
Segundo Sherol dos Santos, diretora do Departamento de Desenvolvimento Curricular da Educação Básica, dois componentes curriculares novos estão sendo criados na rede: um de aprofundamento no Enem e outro de redação e resolução de problemas. A ideia surgiu a partir de processos de escuta da comunidade instituídos pela pasta.
No Colégio Estadual Augusto Meyer, em Esteio, o processo de implementação das mudanças no Ensino Médio em 2022 começou com jornadas pedagógicas promovidas pela 27ª Coordenadoria Regional de Educação, nas quais os professores analisaram a matriz curricular e os itinerários (também chamadas de trilhas de aprofundamento) oferecidos.
— A dificuldade encontrada foi na execução dos itinerários formativos na prática, pois não houve um prazo de estudo anterior à execução que permitisse a apropriação desse conteúdo por parte dos professores que ministrariam aquelas eletivas. Mas, com o apoio da equipe pedagógica e diretiva, conseguimos sanar essa defasagem por intermédio de reuniões pedagógicas de formação direto na escola — diz a diretora Neida Lisbôa.
Os itinerários foram apresentados aos pais e responsáveis. Lá, são oferecidos quatro:
A comunidade escolar demonstrou desconforto com relação à redução da carga horária da FGB, devido a um temor quanto a possíveis prejuízos na aprendizagem dos estudantes. Com as mudanças previstas para 2025, serão oferecidas três matrizes curriculares, e o quadro de professores será reorganizado, de forma a ampliar os componentes curriculares da FGB. Mesmo assim, a comunidade escolar recebeu bem a transformação.
— Recebemos o aumento da carga horária da FGB de forma muito positiva, pois já era um anseio dos professores, alunos, pais e responsáveis. Estamos com grandes expectativas de que tenhamos um maior aproveitamento na aprendizagem dos nossos estudantes.
Fonte: GZH