
O primeiro fim de semana de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como pré-candidato à Presidência terminou com recados calculados — tanto para dentro quanto para fora da direita. Em Brasília, após participar de um culto evangélico neste domingo (7/12), o senador afirmou que *não há divisão interna* no campo conservador diante de sua entrada oficial na disputa e elogiou abertamente o governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos), apontado até dias atrás como herdeiro natural do bolsonarismo.
Segundo Flávio, Tarcísio foi o primeiro interlocutor procurado após Jair Bolsonaro — preso desde o fim de novembro na sede da Polícia Federal em Brasília por condenação no processo que tratou da tentativa de golpe de Estado — ter indicado o próprio filho como sucessor político na corrida presidencial de 2026. “A reação dele foi muito boa. É um cara excepcional, de peito aberto, sempre muito franco”, afirmou o senador, destacando que o paulista é “o principal nome do nosso time hoje”.
A declaração foi uma tentativa explícita de neutralizar o desconforto causado entre partidos de centro-direita, onde lideranças enxergavam Tarcísio como opção mais palatável para ocupar o espaço deixado por Jair Bolsonaro. A escolha do ex-presidente em favor do filho frustrou caciques do União Brasil, PP e Republicanos, que cobravam cautela e consenso — ambos agora em xeque.
Aposta em São Paulo e recado aos aliados
Flávio insistiu que não há fissura. Para ele, a estratégia eleitoral de 2026 começa justamente em São Paulo, onde Tarcísio deverá buscar a reeleição com apoio integral do clã Bolsonaro. “Eu tenho convicção de que a gente vai resgatar o Brasil e isso começa por São Paulo, com uma diferença ainda maior sobre a esquerda do que tivemos em 2022. Não há fragmentação da direita”, afirmou.
O “preço” para desistir
Apesar do discurso de unidade, Flávio não fechou completamente a porta para uma eventual retirada de sua pré-candidatura. E aproveitou os holofotes para impor condições. Segundo ele, existe um “preço” político para abandonar a disputa: a aprovação da anistia para os envolvidos nos atos de 8 de Janeiro, em tramitação na Câmara dos Deputados.
O senador deixou claro que, caso a anistia avance nos moldes do texto original, o benefício poderá alcançar também Jair Bolsonaro — ponto central para seu cálculo eleitoral. “Existe, sim, um preço político”, afirmou. A fala adicionou tensão ao debate no Congresso e virou novo elemento de pressão sobre líderes partidários.
Reunião decisiva com caciques
Nesta segunda-feira (8/12), Flávio terá sua primeira rodada de conversas com dirigentes das siglas que compõem o núcleo duro da direita institucional. O encontro, segundo ele, foi marcado para permitir que todos “digerissem” o anúncio de sua pré-candidatura.
Devem participar Valdemar Costa Neto (PL), Antonio Rueda (União Brasil) e Ciro Nogueira (PP). Marcos Pereira, presidente do Republicanos, também foi convidado. A expectativa é de que o grupo pressione por uma solução que minimize conflitos e garanta coesão para 2026 — seja com Flávio, seja com outro nome.
Caminho aberto, mas turbulento
Com o pai encarcerado, a direita tenta reorganizar seu campo de influência e medir o peso político real de cada liderança. A ofensiva de Flávio Bolsonaro, combinada à tentativa de blindar Tarcísio de Freitas, revela um movimento simultâneo: ocupar rapidamente o espaço deixado por Jair Bolsonaro e evitar que o bolsonarismo rache antes mesmo de começar a campanha.
Resta saber se o “preço” anunciado pelo senador será aceito pelos partidos — e qual será, de fato, o valor político de sua pré-candidatura em um cenário ainda indefinido e cada vez mais pressionado por decisões judiciais, cálculos eleitorais e disputas internas no campo da direita.
Redação do Grupo Sepé - com informações do Metrópoles