GERAL
17/12/2025 às 19:00 por Redação


Professores denunciam pressão por alteração de notas e aprovações no Rio Grande do Sul

Professores denunciam pressão por alteração de notas e aprovações no Rio Grande do Sul

A subcomissão de reprovação escolar da Assembleia Legislativa recebeu nesta quarta-feira, 17, professores da rede estadual de ensino que confirmaram as denúncias trazidas pelo deputado Felipe Camozzato (Novo), relator da subcomissão, desde outubro deste ano. O professor de educação física, Daniel Carvalho, compartilhou informações sobre a rotina de intimidação que os docentes enfrentam para “bater metas” e garantir a aprovação da maioria dos estudantes. “Temos uma cota de reprovação em cada turma para não prejudicar a escola nos números, por isso a gente não pode reprovar. Existem escolas que estão, digamos assim, sob uma vigilância maior da coordenadoria pela questão do número de reprovações”, explicou Carvalho.

Para justificar o aumento das notas, o professor contou que ele e os colegas são orientados a propor atividades lúdicas aos alunos. “A gente não pode fazer uma prova. Então eu já vi aluno recuperar a nota do trimestre ou até do ano no jogo da forca, batalha naval, passa ou repassa. Isso não pode ficar assim”, ressaltou.

Para o deputado Felipe Camozzato, relator da subcomissão, os depoimentos confirmam as inúmeras denúncias recebidas até agora e comprovam que a política pública adotada na educação estadual é falha. “A justificativa de oferecer bonificação financeira ou mesmo colocar o limite de quatro reprovações aceitáveis para não repetir de ano para combater a evasão comprovou ser um tiro no pé. Estas políticas estão aumentando a evasão escolar e o desinteresse alunos na sala de aula”, disse Camozzato. Segundo ele, a subcomissão irá falar com especialistas e técnicos em educação para averiguar a metodologia aplicada “Claramente é uma política pública que não está funcionando e a insistência do Governo do Estado em fazer algo que não funciona mostra a intenção de aumentar o IDEB para dizer que a Educação do Rio Grande do Sul melhorou para fazer disso um benefício político indevido”, alertou o parlamentar.

Professores pediram que identidades fossem preservadas
Por medo de retaliação, três docentes indignados com o tratamento recebido nas escolas pediram para fazer os seus relatos de forma anônima. Os depoimentos em vídeo foram reproduzidos com som e imagem alterados, e as mensagens são estarrecedoras. Um deles disse que a direção da escola solicitou acesso ao sistema onde é registrado todo o histórico das turmas, como notas, frequência, conteúdo desenvolvido. “Pediram o meu login e senha para alterar algumas notas quebradas. Isso só não aconteceu porque o grupo de professores não permitiu. Nos unimos para dizer que ninguém teria acesso ao ambiente virtual para manipular nenhuma nota”, afirmou o professor de Química.

Em outro depoimento, uma professora que também pediu para não ser identificada disse que, em anos de docência, nunca viu a educação no estado que está. “Existe, sim uma campanha para aprovação de alunos, dificultando a reprovação. Sinceramente, este governo foi dos piores. Não adianta ficar compensando aluno, pagando aluno que fica em primeiro lugar no SAERS, no SAEB. Isso é dinheiro jogado fora. A gente percebe que quem foi beneficiado são os menos piores e muitos alunos bons estão sendo prejudicados”, explicou.

O deputado Prof. Cláudio Branchieri (PODEMOS), que integra a subcomissão, afirmou que a denúncia de manipulação de notas sobe a escala da gravidade. “O governo está abrindo mão do seu dever de entregar educação de qualidade em detrimento de tentar melhorar índices junto ao MEC de maneira artificial. Nós não temos que prestar contas à Brasília, nós devemos prestar contas à nossa sociedade e, principalmente, ao setor econômico que precisa desesperadamente de mão de obra de qualidade que, infelizmente, o estado não entrega”, destacou Branchieri.

Professor de história, o deputado Paparico Bacchi (PL) resgatou o histórico positivo da educação gaúcha e lembrou como muitas empresas em outros estados e países contratam gaúchos. “Nós sempre tivemos aqui a boa educação como referência e hoje é lamentável que tenhamos índices de aprovação como esses. Não há uma dinâmica de ensino, só o passar por passar. Acredito que essa oitiva pode ser o início de uma caminhada para trazer de volta a boa educação do nosso estado”, afirmou Paparico.

Também contribuiu com o debate a vereadora de Três de Maio, Vanessa Sallapata (NOVO). Ela é professora da rede pública estadual há 25 anos e se diz estarrecida com a condução da educação pelo governador Eduardo Leite no estado. “Nós estamos realmente indignados, essa é a indignação da população. Tem uma frase que vem muito a contento nesse caso, o escritor Rubem Alves já dizia ‘eu finjo que ensino e você finge que aprende’. Nós estamos nessa situação. Só se fala em aumento de índice e o conhecimento e a aprendizagem estão ficando muito aquém”, salientou Vanessa.

Fonte: Ascom/Gabinete do Deputado Felipe Camozzato


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