Uma das mais ricas histórias de Santo Ângelo tem parte recuperada. Trata-se do patrimônio material desta cidade, sede de uma das reduções jesuítico-guarani de maior impacto na história e formação do Rio Grande do Sul. O sobrado localizado na esquina entre as ruas Marquês do Herval e Bento Gonçalves foi reformado, e a fachada totalmente recuperada, observando seus aspectos originais. O sobrado foi construído por Alfredo Pinheiro Machado, em 1919 e no local funcionou o primeiro jornal da cidade, o Jornal A Semana, de propriedade do Padre Serafim Dias Ferreira. A edificação seguiu características da época, em estilo neoclássico, com janelas rebaixadas e sacadas metálicas. Ao longo do tempo o imóvel sofreu algumas intervenções, que descaracterizaram parte de sua fachada original.

O EMPREENDIMENTO

Em 2011 os advogados Laercio Roque Tolfo Viera e Mara Denise de Azevedo Viera adquiriram o imóvel. Eles queriam um imóvel no quadrilátero central, pois há mais de duas décadas possuem escritório no local. “Os clientes já se identificam com essa área”, disse Mara, acrescentando que outra questão diz respeito ao interesse de se preservar a história, oportunizando a quem passar pelo local identificar o prédio histórico e apreciar sua integração com a modernidade. Laércio Viera acrescentou: “Na época, fizemos uma pesquisa dos imóveis que estavam à venda no entorno da praça, e após verificar a situação de algumas construções, optamos por este Sobrado, que estava relacionado como Grau de Preservação nível 2, ou seja, obrigatoriedade de se preservar a sua fachada. Queríamos fazer um empreendimento que respeitasse a história patrimonial do prédio, com o cuidado de projetar a construção do novo e o restauro do antigo para que formassem um conjunto harmônico, destacando-se pela arquitetura contemporânea e o antigo contando sua própria história”, diz o advogado.

A OBRA

A obra contou com a assessoria do arquiteto Sérgio Schneider e da empresa Katio Borges Construções Ltda, responsável pela parte de restauro da fachada do Sobrado. O foco foi revitalizar a fachada original do imóvel e integrá-lo com o novo prédio construído na lateral da Bento Gonçalves. “Alguns imprevistos foram inevitáveis, como retirar todo o madeirame do telhado, comprometido por cupins, e ainda colocar estrutura metálica para a sustentabilidade do prédio porque estava com risco de desabamento”, lembra Laércio. A fachada do prédio, após o restauro, ganhou nova camada de tinta, que realçou detalhes e frisos, tendo o projeto priorizado a preservação da essência da edificação considerada de preservação de segundo grau, ou seja, de obrigatoriedade de preservação da fachada. Assim, quem passar pela via pública, identificará o prédio centenário. Por isso foram revitalizados detalhes originais como os dois gradis metálicos, recolocação dos balaústres, as portas e janelas em madeira e os detalhes dos frisos e contornos que realçam a essência e a longevidade da edificação. “É um empreendimento que torna Santo Ângelo melhor, com resgate de uma parte histórica da cidade, revitalizando seu centro histórico”, afirmam os advogados Laércio e Mara Viera.

(Fonte: Arquivo Histórico Municipal de Santo Angelo, Augusto César Pereira dos Santos. COSTA, Alfredo R. da. O Rio Grande do Sul - Completo Estudo Sobre o Estado) Livraria Do Globo; Barcellos, Bertaso e Cia, Porto Alegre, 1922, Volume I. MUTTER, Débora. Evidências do primeiro século da recolonização de Santo Ângelo através do seu patrimônio arquitetônico. Dissertação de Mestrado. PUCRS. Porto Alegre, 2012).

Fotos: Thayan Lisboa | Jornal A Tribuna